Quatro Luas

o outro lado do espelho da música da Europa. Domingos :22h-24h com repetição as quartas : 21h-23h, na AVEIRO FM 96.5

Minha foto
Nome:
Local: Aveiro, Portugal

quinta-feira, agosto 02, 2007



Suicide – “Suicide” (USA, 1977, Red Star Records Inc.)



Há 3 décadas, também no Verão quente nova-iorquino de 77, e à parte o batalhão mor que liderava 15 minutos de revolução com tambores, fios e guitarras (Ramones, Television, Patti Smith, Blondie, Talking Heads, Richard Hell...), havia uma outra consciência ainda mais “lumpen”, que anunciava já a futura No Wave de Lydia Lunch, Glenn Branca e Swans. Apenas um duo “freak”, munido de teclados low-fi, beatbox e microfone rançosos, com um nome para matar – Suicide.
Com “Suicide” (1ºlp), Alan Vega e Martin Rev (uma dupla saída da pior “bad-trip” pós-Woodstock) abriam os olhos ao mundo, como se fosse preciso expressar mais verdades sobre o pesadelo de NYC, do Bronx a Times Square. Esteticamente, não é todos os dias que se ouve uma banda pegar em James Brown, Elvis, Stooges, Velvet Underground, Kraftwerk e Faust, cortar tudo bem picadinho, ligar a trituradora e, quais “Itchy and Scratchy” do rock’n’roll, esperar ver o sangue jorrar pela tampa.
Sentir calafrios ao escutar pela 1ª vez “Ghost Rider” e “Rocket USA” ( e após 30 anos verificar a sua actualidade!), acusar um rubor adolescente confessional, escutando no FM em solitária escuridão “Cherree, Cherree” ou “Girl”, às 3 da madrugada, estabelecer uma empatia química de identificação com a figura do tema “Johnny” e, ao virar o disco, realizar o horror da exploração capitalista no libelo suicida de “Frankie teardrop” (com a sua genial “middle-part” de puro “urban jungle dark ambient” antes do tempo, salpicada pelos guinchos lancinantes de Vega) , encontrando uma nesga de esperança no apelo final “C’mon get up, we’re all Frankies!” e, a fechar, recuperar consciência ao som da procissão solene de canonização de “Che” (e perceber a razão de a editora de Marty Thau se chamar Red Star!), tudo isto faz do disco de estreia dos Suicide um infeccioso álbum iniciático, mas para o qual nunca aconselharia “Parental Guidance”.
Parafraseando Robert Duval em “Apocalipse Now”, pela manhã, o cheiro da nostalgia Suicide tem um não sei quê de napalm misturado com anfetaminas...Recentemente, talvez tenha sido Henry Rollins a fazer-lhes o melhor epitáfio em vida : “ It’s ironic – you, Dylan and the Stones are the longest-lasting entities in music, and you’re called Suicide!”