De Mysteriis QuatroLunasque não têm mistério algum.

Para quem nos ouve regularmente no distrito de Aveiro e por ventura já nos conhece pessoalmente sabe que andamos nisto há 20 anos. A nossa missão é dar a conhecer via rádio os nomes actuais e clássicos que têm tido a coragem de remar contra a corrente da linha de montagem que é hoje a música popular.

Não temos pruridos contra quem gosta e segue essas orientações comerciais, muito pelo contrário; nada temos contra a música dita comercial, aliás,se nos escutam com frequência, já constataram que frequentemente concedemo-nos a indulgência de navegar pelas memórias da inocência, e repescamos nomes como Nancy Sinatra, Burt Bacharach, Monkees, Archies, Lee Hazlewood, The Partridge Family, The Manson Family, The Osmonds ou Petula Clarke, entre muitos outros. E mesmo aqueles ortodoxos que adivinham nisto tudo um tongue-in-cheek kitsch, sabem que o fazemos com alma e coração. Quatro Luas é o resultado de várias transmigrações da alma; acompanhámos o boom das estações locais aveirenses, e em Outubro de 85 chamámo-nos "A Oeste Algo de Novo", epíteto derivativo logo preterido um ano depois em favor do não menos influenciado "Catedral" (na altura ouvíamos muito FELT...). Nesta fase, sem o sabermos e quase em processo de escrita automática pessoana, fazíamos a separação das águas entre a música pop comercial de qualidade e o futuro da música dita subterrânea sem a PRETENSÃO de o ser - em breve os REM e os Go Betweens seriam meninos bonitos de estações nacionais com Index Torquemadiano, enquanto a hegemonia dos ORANGE passava ao plano B, a que chamavam eufemisticamente a reorganização do éter nacional e local - honi soit qui mal y pense... Constatando que não era essa a nossa cor de camisola, decidimos ceder à pressão, e em Dezembro de 88 fizémos o blackout - aliás, não só nós, como todos os nossos Kamaradas em redor. Depois de profuso exame de consciência de sabor intensamente subversivo, chegámos à conclusão que a chave do problema sempre estivera no fundo do poço e que nada mais havia a fazer do que proceder à descida iniciática - V.I.T.R.I.O.L. , anyone? Durante os últimos anos de "Catedral" tínhamos começado a divulgar bandas britânicas pouco conhecidas em Portugal, cujo recorte musical não se inseria facilmente em playlists imaginárias ou mesmo rebeldes - pelo menos em Aveiro, tivémos a exclusividade de dar a conhecer "on-the-air" os nomes dos DEATH IN JUNE, CURRENT 93, SOL INVICTUS, BOYD RICE/NON, assim como outros grupos que os antecederam e cuja missão seminal havia terminado ou caído no esquecimento ( falamos de gente como os THROBBING GRISTLE, PSYCHIC TV, COIL, SPK e amigos...). Pegando nesse legado, regressámos em 1990, então já como QUATRO LUAS acrescentando àquela toada as correntes actuais mais melódicas, neo-clássicas e "bizantinas", em que acolhíamos os discos dos Dead Can Dance e In the Nursery, para citar os mais emblemáticos da época, ou de áreas mais dramáticas como os SWANS ou DIAMANDA GALÁS. Até 1992 esta orquestração foi funcionando com algum e surpreendente retorno, até que se tornou profissionalmente impossível continuar com as QUATRO LUAS.

Novo hiato espreitava e desta vez por muito tempo. Com este parêntesis, importa aqui esclarecer o porquê de um tal nome - inicialmente conotado com a frequência semanal do programa, em que em cada semana haveria uma lua diferente a instigar o espírito da emissão, em breve a expressão ganhou diferentes contornos inspiradores; com a crescente vaga de bandas cujo som apelava para uma nova descoberta da espiritualidade e dos variados temas a ela associados, Quatro Luas passou também a significar a variedade absoluta dentro de cada programa de duas horas. Há também quem sustente que o nome deriva directamente da leitura do livro "O despertar dos Mágicos" da dupla Pauwels/Bergier, mas aí há que procurar bem nas páginas do emaranhado fantástico da obra.

Em Janeiro de 2001 voltámos, com estação nova e tudo, e por aqui continuamos, com 4 anos de 4 Luas, na senda do outro lado do espelho da música da Europa ( e já agora do melhor da América também!). Quanto ao "outro lado do espelho" - essa é fácil adivinhar donde veio ..."...ici, laissez tout'espérance...".

Visitem o nosso Blog e consultem as playlists de Quatro Luas.

J*C Silva