Quatro Luas

o outro lado do espelho da música da Europa. Domingos :22h-24h com repetição as quartas : 21h-23h, na AVEIRO FM 96.5

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Local: Aveiro, Portugal

sexta-feira, julho 28, 2006

Sangre Cavallum : “Pátria Granítica” 2006
edição Ahnstern (Áustria), distribuída na Europa por Steinklang records
distribuída em Portugal por
www. Equilibrium Music. com. (cd-lp )

Dum calor que nasce do frio da Pedra, enche-se-nos o coração e morre à nascença a passageira e pueril inveja por não termos feito um disco assim. Dá vontade de parafrasear o Poeta e gritar : “Regresse tudo o que a antiga Musa canta!”. Depois de “Barbara Carmina” (em finais de 2004) , o segundo álbum dos penafidelenses Sangre Cavallum, “Pátria Granítica”, não é uma marcha triunfal, é um cerco, fero e estóico, que finalmente alcança o topo do castro.
Em pouco mais de 40 anos de consciência da música nacional, só posso dizer que apenas duas vezes um disco me trouxe tal sensação – em 75, com o primeiro da Banda do Casaco, e em 84, com “A um deus desconhecido” da 7ª Legião. Mas diz o povo que não há duas sem três, e valeu bem a pena esperar 22 anos por este “Pátria Granítica”, que sempre soubemos lá estar, a Norte, feito de pedra, aguardando que um grupo de bardos como os Sangre Cavallum o transformasse. Já usámos o vocábulo “petrimundum” para definir o trabalho do austríaco Gerhard P. (que aqui também colabora), no seu projecto pessoal Allerseelen – e “Pátria Granítica” reactiva essa urgência de falar com e pelo o mundo das pedras.
Cantam o Norte de Portugal, em que incluem a Galiza, e vêem o Minho e a raia transmontana, não como fronteiras naturais, mas como articulações vivas do mesmo corpo telúrico, traduzindo essa visão holística da cultura e tradição com o som de gaitas de foles, guitarras braguesas, amarantinas e beiroas, entrelaçando certeiros e “iniciáticos” ritmos de Zé-pereiras com o estalar de simples pedras roladas, enquanto na retaguarda, vigiam firmes coros guerreiros de heróis da terra, enfeitados de arcaicas filigranas de bandolins e flautas.
Nas fotografias surgem com máscaras de caretos, coroadas de parras e vides, como que honrando a antiga divindade do vinho – e é nesta embriaguez de oráculo da alma galaico-duriense, que a música extremamente visual dos Sangre Cavallum vem revelar os segredos passados do futuro da música portuguesa. Em Agosto, é com este fogo posto no espírito que quero estar a Norte – obrigado, Sangre Cavallum!

“Tradição, pedra d’amolar as rebeliões do amanhã!”

João Carlos Silva / 4 Luas / Aveiro FM