Quatro Luas

o outro lado do espelho da música da Europa. Domingos :22h-24h com repetição as quartas : 21h-23h, na AVEIRO FM 96.5

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Local: Aveiro, Portugal

terça-feira, novembro 06, 2007

4 Luas, série “Efemérides de Luxo” : CURRENT 93 _ “Swastikas for Noddy” _Islândia/Reino Unido, 1987, L.a.y.l.a.h. anti-records.

Quando se assinala uma data, é bom que seja de algo que tenha valido a pena. Eis aqui outra obra vítima de datas redondas – “Swastikas for Noddy”, o disco mais responsável por mil de bandas de “apocalyptic folk” nos últimos 20 anos.
Gravado entre Londres e Reiquiavique (onde David Tibet tinha ido passar férias, ler livros com amigas islandesas e, eventualmente, investigar a incidência do uso, pelos locais, de substâncias etílicas e fúngicas, ao contrário da voz corrente que o imaginava em profundo retiro ecuménico budista-asatrú...), “Swastikas...” carrega em si o código genético de folk que Tibet tinha ensaiado um ano antes com o seu camarada de então Douglas Pearce , juntos nos Death in June de “The Wörld Thät Sümmer” - a sequência cronológica entre os dois discos é flagrante e talvez mais significativa que a continuidade dada à própria discografia C93, que no ano anterior tinha brindado os seus fiéis com “Imperium” um disco de uma beleza plácida e mística intemporal.
É neste álbum que a colaboração Tibet-Douglas P.- Rose McDowall- Ian Read-Boyd Rice, entre outros, amadureceu, ao ponto de se terem tornado numa espécie de nova “family” semi-mansoniana ( uma alusão que de graciosa passou a gratuita, trazendo-lhes quase sempre problemas com a vizinhança...).
Em 87, a guitarra acústica de Douglas dominava a maioria das canções incluídas, por vezes repetitivas e algo atabalhoadas, outras demasiado crípticas, mesmo para os que se achavam entendidos na matéria. “Panzer Rune” e “Beausoleil” eram as longas provas de fogo, mas o incrível apelo de “Oh Coal Blacksmith”, “Black Flowers please”, “Scarlet Woman”, “the Final Church of the Noddy Apocalypse” ou “The Stair Song” estabelecia os Current 93 como sátiros trovadores de tempos vindouros, infelizmente sob um céu carregado de incertezas. Para animar lá estavam duas “covers” irresistíveis – “This ain’t the summer of love”, dos Blue Öyster Cult, e “Since Yesterday” das lendárias Strawberry Switchblade de Rose McDowall.
Reeditado nos anos 90 com uma mudança no título, em que se substituiu “Noddy” por “Goddy” (em parte devido à pressão do grupo editorial de Enïd Blyton...), até porque a maioria dos distribuidores sempre olhou de soslaio aquele título, ignorando os trocadilhos humorísticos implícitos, “Swastikas for Noddy” vai permanecer na história da música popular como a acta do 1º grande simpósio de autodidactas neo-folk tornado manual de bolso dos agitadores de consciências numa futura Europa “unida-à-força”. E depois, aquele refrão cantado com dilacerante abandono nostálgico : “E enquanto nos sentamos aqui, sozinhos, à Procura de Razões para Continuar – torna-se claro que tudo o que Agora Temos são os nossos pensamentos d’Outrora ...”