Quatro Luas

o outro lado do espelho da música da Europa. Domingos :22h-24h com repetição as quartas : 21h-23h, na AVEIRO FM 96.5

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domingo, maio 13, 2007

NURSE WITH WOUND, Auditório de Serralves, 5 de Maio de 2007

Balanço: Uma enfermeira ferida, mas fora de perigo, mantém audiência ligada às máquinas...


“No sense makes sense”- a citação mansoniana parece fazer sentido a propósito da vasta obra dos Nurse With Wound (NWW) de Steve Stapleton; só que o seu “no sense” ( que não é o mesmo que “nonsense”!) é meticulosamente encenado ou, quando improvisado, reflecte em exacta medida a prodigiosa criatividade do músico/não-músico britânico. Ver e ouvir os NWW de 2007, sabendo que só no ano passado Stapleton interrompeu um jejum de vinte anos em matéria de concertos, é mais que sorte, é deveras uma honra.
Incluído no programa “Anos 80, Lastro e Rasto”, paralelo à exposição “Anos 80, uma topologia”, com a coordenação da vertente musical da responsabilidade de Pedro Rocha, o concerto de Sábado, 5 de Maio, encheu o auditório de Serralves, numa paleta geracional “of sorts”- gente jovem e interessada, gente jovem e militante, gente menos jovem, resistente e sobrevivente da década que deu nome ao programa, todos na expectativa de presenciar e viver uma experiência sensorial única e inesquecível.
À frente, a toda a largura do palco, uma vasta mesa de conferência coberta de cetim negro – revisitar-se-ia o encontro fortuito de uma máquina de costura e um guarda-chuva sobre uma mesa de dissecação? Dissecação, sim, mas do som tornado puro, em última análise, abstracto. Que alinhamento mágico de estrelas se insinuava de fora para dentro da sala de Serralves?
Durante cerca de hora e meia, Steve Stapleton e os seus 3 actuais colaboradores, Matt Waldron, Marcus Ripley e o fundamental Andrew Liles, concederam-nos a possibilidade de fazer turismo espacial, sem pretensões pseudo-cósmicas, milionárias ou intelectualóides – e chega de se falar eternamente em Steve Reich, LaMonte Young, John Cage, Stockhausen; não foi em vão que, na alvorada dos 70’s, aos dezasseis anos, Steve foi passar “férias” para a Alemanha, em pleno “krautrock boom” - punkt! Em fundo, uma tela gigante com uma projecção vídeo conceptual, uma figura feminina asiática omnipresente em pose de deusa, com nus contorcendo-se à sua volta.
Após a meia hora inicial de voo no hiper-espaço do nosso córtex cerebral, o quarteto atrás das máquinas e gadgets vários, desliga o “warp-speed factor” e descansa em velocidade de cruzeiro, num inusitado “mutant space funk” tão livre e intensamente brilhante que não seria indigno dos momentos mais “funcadélicos” de SUN RA...Se calhar a atoarda do “alinhamento” estelar até que nem sai assim tão gratuita - não passavam exactamente sete anos sobre o ominoso alinhamento planetário de 5 de Maio de 2000 ?! Depois de alguns momentos francamente inesperados (embora já se soubesse há anos do interesse que Stapleton nutre pelo hiphop mais vintage...cf.“Rock’n’roll station”), a equipa regressa à vasta galáxia desse “hiperdélico dada”, que é transversal à já centesimal (!) discografia NWW. Mal se extingue o último “beam” sónico, o grupo abandona sob avalanche “himalaica” de aplausos que os ovaciona ininterruptamente durante largos minutos – imagine-se!: em Portugal pede-se “encore” num concerto de NWW! Ok, admitamos que é raro... Os músicos regressam, no seu bom humor, replicando: “Só mais 5 minutos, porque temos de ir para casa!”. É um grande final com antenas “theremin”, máscara anti-gás e batedeira-manual-para-claras-em-castelo, com guitarra eléctrica deitada sobre a mesa e arco de violino. Se foi esta a última vez que vimos Nurse With Wound, é mesmo para não esquecer – avisam-se os mais curiosos que os dois novos discos se chamam “Stereo wastelands” e “Insect and individual silenced”. NWW 1978-2007... ao cabo de 3 décadas de serviço, a Enfermeira Ferida merece a medalha de alto mérito e bravura, mas espera-se que não se reforme já...

1 Comments:

Blogger Angelo said...

Belo texto acerca de um fantástico concerto a que,felizmente, tambem tive o previlégio de assistir. Apenas quero fazer uma pequena correcção pois dos quatro magnificos faziam parte o Colin Potter e não o Marcus Ripley. Infelizmente também não esteve presente o tão aguardado David Tibet. pode ser que um dia deste possa visitar-nos e desta vez a norte. Já agora parabéns pelo 4 luas que é das melhores coisas feitas na nossa cidade.

4:49 PM  

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